Não pare de aprender
Lembro da minha mãe saindo de casa para ir para a Faculdade de Enfermagem quando eu tinha 10 anos. Ela tinha 40. Me dava um beijo e falava para eu e minha irmã jantarmos a sopa que meu pai estava fazendo “sin rechistar”. Também lembro da sua colega de faculdade, Beatriz – se chamava igual à minha mãe, mas era 20 anos mais nova – quando vinha estudar na minha casa com ela. Eu achava a Beatriz demais, com seu piercing no nariz, seu cabelo pintado de vermelho e suas histórias sobre as viagens que tinha feito na Índia como voluntária em hospitais.
Lembro do meu pai sentando com elas – e comigo, pois eu sempre sentava do lado para observar elas falarem sobre doenças estranhas e desconhecidas, mesmo que sentisse medo de pegar alguma delas – e todo mundo dar risada junto quando ele fazia perguntas sem sentido sobre essas doenças. Ele é arqueólogo e uma pessoa extremamente curiosa que gosta de ir atrás de conhecimento. Conversa com pessoas, procura informação na internet, sabe tudo o que está acontecendo no mundo e está sempre atualizado sobre as últimas tecnologias que ele possa aplicar tanto no trabalho quanto no seu dia a dia pessoal.
Esses são meus pais, e estes são só dois exemplos do que significa a Aprendizagem ao longo da vida ou lifelong learning na prática. Uma das definições oficiais é: toda a atividade de aprendizagem em qualquer momento da vida, com o objetivo de melhorar conhecimentos, habilidades e competências, no quadro de uma perspectiva pessoal, cívica, social ou profissional. Ou seja, o lifelong learning é o conjunto de aprendizados que você adquire ao longo da sua vida toda, não se limitando apenas àqueles recebidos em instituições formais, como a escola ou a faculdade, em idades determinadas, como a infância, adolescência e juventude.
A verdade é que a Aprendizagem ao longo da vida não é um conceito novo: há 2.500 anos, o Platão na Grécia e Confúcio na China já falavam sobre educação e aprendizagem ao longo da vida como elementos que permitem aos seres humanos realizar e praticar a sua própria natureza. E não é isso o que todos procuramos?
Ao longo do século XX, o lifelong learning começou a ser cada vez mais estudado e, nos últimos 10 anos, ganhou muita popularidade. Inclusive, foi debatido pela UNESCO e pelo Foro Econômico Mundial, descrevendo como a Aprendizagem ao longo da vida é necessária para desenvolver as competências mais relevantes para o mercado de trabalho do século XXI. Caso você queira saber mais sobre esse assunto, deixo o link do relatório do WEF aqui.
Hoje em dia, quando se fala de lifelong learning geralmente se usa a concepção do Foro Económico Mundial: à aquisição ou atualização de competências, habilidades e conhecimentos com o objetivo de se adequar às exigências do mercado de trabalho atual. Por exemplo, um curso de tecnologia para pessoas que precisam dela para seu trabalho, ou um workshop de oratória para alguém que quer fazer uma transição de carreira e começar a dar palestras.
Aqui existe um debate que eu acho muito interessante, que critica esse conceito de Aprendizagem ao longo da vida, porque se refere a uma educação totalmente voltada para as necessidades do mercado de trabalho, e não para continuar desenvolvendo uma visão crítica da realidade, ter uma maior conscientização do mundo ao nosso redor, ou conseguir questionar nossa realidade. É por isso que é preciso descobrir um equilíbrio na Aprendizagem ao longo da vida: adquirir aprendizados diversos que sejam úteis para nos capacitarmos e atualizarmos de acordo com o que o mercado necessita, mas também enriquecedores para nosso desenvolvimento pessoal e social. Concorda?
De qualquer forma, o importante da Aprendizagem ao longo da vida é que quebra uma visão da educação rígida, estancada, quadrada, exclusivamente formal, que diz que educação só acontece nas escolas e universidades, e com uma idade determinada: a infância e juventude. Aprendizagem acontece com qualquer idade e em qualquer lugar, a educação não pode ser reduzida à escolarização e nem à idade escolar!
E de que forma você pode ir atrás desse tipo de aprendizagem? Bem, existem inúmeras maneiras de aprender, se educar, se capacitar e se atualizar, e tenho certeza que você já conhece muitas delas:
- Educação informal, ou seja, aprender sem um currículo de por meio, refletindo sobre suas vivências diárias e aprendendo com as pessoas do seu redor, conhecidos, amigas e familiares. Uma dica: se você quer aprender sobre um assunto específico, vá atrás de pessoas especialistas no assunto e entre em contato com elas por meio do LinkedIn ou Instagram pedindo conselhos sobre onde, como e com quem aprender!
- Educação formal, ou seja, fazer um curso ou graduação em uma instituição formal reconhecida pelo MEC como uma universidade. Cada vez são mais as pessoas acima de 50 anos que decidem fazer uma faculdade, tanto por pura satisfação pessoal quanto para se qualificar no mercado de trabalho. A universidade ainda é muito relevante, mas recomendo que você reflita bem se é isso mesmo o que você precisa, já que é um processo mais demorado que nem sempre dá os frutos esperados.
- Educação não formal, que significa aprender em instituições não reconhecidas pelo MEC, mas que seguem um currículo determinado. Aqui têm milhões de oportunidades, pois você pode fazer cursos curtos de alguns dias até alguns meses em plataformas como Coursera, que oferece infinitos cursos – muitos deles gratuitos – sobre praticamente qualquer assunto que você quiser. Existem também entidades que oferecem cursos específicos para pessoas acima de 50 ou 60 anos sobre diversos temas – desde fotografia e yoga até biologia e química -, como a USP 60+, que também proporciona oportunidades para participar em atividades culturais, concursos, palestras e por aí vai.
E, claro, a berthô! A gente oferece cursos específicos para pessoas acima de 50 anos, por exemplo, nós acabamos de finalizar nosso primeiro curso de mentorias para formar mentores 50+ que possam colocar toda sua experiência a serviço de pessoas que precisam de orientação dos mais diversos tipos. Mas em breve teremos uma segunda edição para a que você está convidada(o), além de um curso de Autonomia Digital para aprender a se virar com a tecnologia que será lançado em breve.
Não importa a forma que você escolha para continuar aprendendo, o essencial é que nunca perca sua curiosidade, que nunca deixe de aprender!